quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Hodierno

A minha liberdade se esvai todas as noites quando meus pensamentos exaustos se voltam para o martírio cotidiano do dia seguinte, se vai todas as manhãs quando escovo os dentes e me visto para a labuta, quando me vejo em meio à turba espremida no container Mercedes Benz, na repetição dos gestos, das falas, nos míseros três dígitos no contracheque, no aumento da força motriz do Capitalismo, nos meus desejos negados, meu cartão abarrotado, na venda barata da minha força de trabalho por um mundo de sonhos dezoito andares abaixo.

Texto: Juliana Ebrifestante

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Feriado


Acorda cedo no café das dez
Contando as ondas balançando os pés
Abre-se o tempo na janela do quarto
Fazendo planos de andanças ao acaso
Eu vejo as casas históricas
Ouvindo o canto dos passarinhos
Chove na água do rio
Eu vou voltando ao ninho
A rodovia parece infinita
As horas findam na segunda tal qual domingo

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

No hay banda

Pergunto a Jorge Manuel e ele me vem com aqueles olhos... Sabe aquele fugir de olhos quase como um nervosinho inocente? Quando se pergunta algo e o inquirido responde querendo mais convencer-se da verdade que propriamente fazer com que creia.
Falo de algo meio “o poeta é um fingidor, finge tão completamente...” Enfim, pior é quando se quer ouvir algo e o outro lhe responde de modo ensaiado como que seguindo os passos de uma coreografia vista pela primeira vez. É a dança da diplomacia falida dos casais que já encontraram o equivoco e continuam querendo manter as amarras saudosas de outro dia.
Verdade mesmo é que as nossas verdades quando descobrimos que se distanciam em demasia das verdades de nossos amores, causam verdadeiras desilusões que “dança eu, dança você” nesse jogo do não saber que se sabia tão errado assim. Meu pai sempre me dizia “coração dos outros é terra que ninguém passeia”, verdade sem fim tinham tais palavras que se encaixam nas vezes em que meu coração calou amores, abafou dissabores, esconde no fundo de mim tudo que nem eu sou capaz de saber.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tornei-me um ébrio


Em resposta lhe viro a cara, simplesmente por não querer mais argumentar sobre fatos consumados, sobre pontos de vista de verdades supremas descabidas. Na esquina há sempre um bar que alivia os nervos do exaurido sequioso de afeto etílico... Eita alento mágico! Ah de sustentar minhas lamúrias e findá-las na preocupação com o estômago do dia seguinte, a dor de cabeça e a sede maldita. Malditaaaaaaaaa! A vontade me deixa à-vontade para o deletério das doses a mais. Não que essa seja a solução, está longe, nem mesmo é uma rima como o Raimundo de Drummond, mas contanto que seja um anestésico, meu pequeno sortilégio, fuga que mergulha no êxtase das noites a esmo.